sábado, 29 de outubro de 2011

A viagem


Quando vai realizar uma simples viagem a um país estrangeiro, uma pessoa dotada de um mínimo de ordem e previdência tomará algumas medidas e precauções para evitar contratempos e dissabores. Assim, após providenciar o passaporte e o necessário visto de entrada naquela nação, ela vai procurar saber qual a estação do ano e a temperatura reinante, a língua ali falada, a moeda circulante e outras informações dessa natureza.
De posse desses dados, ela cuidará das passagens, da sua bagagem e de deixar todos os compromissos na pátria de origem devidamente organizados, para que os seus parentes e amigos não sejam perturbados por credores e outras contrariedades.
Tudo isso ela fará sem ter certeza de que concretizará a viagem, porquanto um obstáculo imprevisível poderá impedi-la de viajar.
Entretanto, para a grande viagem, a viagem que todos faremos, ou seja, para a morte, poucas pessoas estão preparadas, raras são as que procuram saber as condições de tempo e de espaço, o clima, a língua, a moeda, os meios de transporte, a alfândega e todos aqueles detalhes necessários para a viagem ao mundo espírita, ou mundo dos Espíritos, de onde viemos e para onde vamos retornar a qualquer momento.
Foi pensando nisso que resolvemos convidar o leitor para uma viagem imaginária ao mundo espírita, fazendo uma analogia com uma viagem aqui no mundo físico. Vamos nessa?
Os preparativos
Antes de mais nada, convém não esquecer que essa viagem terá início sem aviso prévio, de modo que a bagagem deverá estar sempre pronta, porquanto quando nascemos já recebemos a passagem de volta. Assim, é bom deixar todos os nossos papéis, contas e demais compromissos em ordem, para não amolar os que não irão conosco.
A moeda circulante no mundo espiritual é constituída pela inteligência, pelos conhecimentos e pelas qualidades morais, de acordo com o Espírito Pascal ("O Evangelho segundo o Espiritismo", Cap. XVI, Item 9). Serão estes recursos que nos garantirão um alojamento em um hotel de cinco, quatro, três, duas, ou apenas de uma estrela, ou um aposento de péssima categoria, ou, o que é ainda pior, o abandono pelas ruas, debaixo de pontes e entre malfeitores.
Esta será também a nossa única bagagem, pois de nada mais iremos precisar no nosso destino. Desse modo, cada um levará o que possuir daqueles valores.
Como os Espíritos se utilizam do pensamento para a comunicação, será ótimo que desenvolvamos o hábito de pensar muito, não esquecendo que desde já os nossos pensamentos são lidos pelas entidades desencarnadas, que são atraídas de acordo com a qualidade desses pensamentos. Serão estes Espíritos, afinizados conosco, que estarão nos esperando na chegada ao mundo espiritual. Como será ela? Vejamos a seguir. 
A chegada
Vamos comparar a nossa chegada no mundo dos Espíritos a uma chegada em um movimentado terminal aqui da Terra, seja ele uma estação rodoviária, ferroviária, do metrô ou ainda um aeroporto; as circunstâncias em todos eles são muito semelhantes. Com efeito, quando vamos embarcar ou quando acabamos de desembarcar em uma grande cidade, na qual estivemos apenas uma vez ainda na infância, se não tivermos alguém à espera e que conheça o local, vamos ter muitas dificuldades com as informações sobre os meios de transportes, hotéis, e se for em um país estranho, teremos ainda as complicações decorrentes da linguagem e da utilização da moeda.
Algo análogo acontece nessa nossa viagem. Neste exato momento (olhe o seu relógio), milhões de pessoas estão desencarnando, isto é, estão desembarcando no mundo dos Espíritos, e ali estamos nós, na nossa viagem imaginária. Olhamos para cá e para lá: ninguém conhecido se aproxima... Espíritos em tudo semelhantes a pessoas encarnadas, usando a roupagem perispiritual, circulam, passam por nós, afastam-se, cada um cuidando de sua própria vida. Ah! Por que não nos preparamos melhor para a viagem? Onde está o balcão de informações? Lá vem agora o oficial da alfândega! Certamente vai nos perguntar quem somos, de onde viemos e o que estamos fazendo aqui! E agora?
Nesse exato momento se aproxima uma pessoa gentil, que se oferece para nos ajudar e se identifica. É o nosso anjo guardião, aquele mesmo de quem tantas vezes ouvimos falar e a quem pouco valor demos. Mas ele não parece importar-se com a nossa ingratidão. Conversa com o oficial alfandegário, que se afasta meio desconfiado. Agora o guardião fica a sós conosco e tenta nos acalmar.
Ele tem enorme dificuldade para nos explicar que já estamos no plano espiritual, que atravessamos a "fronteira de cinzas" e que deveremos nos ambientar na nova vida. Diante da nossa perplexidade, ele nos toma pelo braço, a fim de nos afastarmos do ponto de chegada, onde vários Espíritos já nos olham com curiosidade. Eles sabem que somos recém-chegados! O que vai nos acontecer em seguida? 
Como é a vida no mundo espiritual
Os Espíritos dizem que, para nos informarem acerca das condições de vida no mundo em que estão, encontram o obstáculo de um indígena que, tendo realizado uma visita à civilização, tenta, ao retornar à tribo, explicar aos seus parentes e amigos as conquistas que viu, como, por exemplo, a televisão, o telefone, o fax, etc. Ou, ainda, de algo semelhante a descrever a um cego de nascença a luz e as cores.
Não obstante, temos que aguçar a nossa imaginação, porque já estamos, em nossa viagem, no mundo espírita. Aqui as condições ambientais não dependem da atmosfera ou do heliotropismo, mas do fluido cósmico universal. É ele que, por exemplo, serve de veículo ao pensamento, como o ar conduz o som na Terra. As trevas existem apenas para os Espíritos a elas condenados, que pensam inexistir a luz. A poluição reinante decorre dos maus pensamentos, assim como o saneamento depende da sua elevação.
A duração do tempo também é relativa à posição individual, pois para este Espírito um século pode parecer um segundo nosso, enquanto que para aquele o contrário é que se dá.
Existem praças, avenidas, ruas, casas, escolas, hospitais, Prefeitura, Cadeia, Fórum e outras repartições, com profissionais e servidores semelhantes aos nossos. Os meios de transporte são velozes e silenciosos, posto que os Espíritos possam locomover-se usando apenas o pensamento.
Por falar nisso, eis que se aproxima um agente oficial, querendo saber do nosso destino. O guardião já nos alertara de que isso aconteceria a qualquer momento. Esse agente é a nossa consciência, que, a partir de agora, passa a rebobinar o filme de nossa vida. Lances dela que já havíamos esquecido, ou que deixáramos para um exame futuro, chamam-nos para o ajuste de contas tantas vezes adiado, perante uma Justiça cuja balança é mais precisa do que a dos laboratórios científicos. Neste tribunal não adianta ajustar advogado de fora; seremos nós mesmos os nossos próprios juízes, proferindo a sentença relativa ao nosso modo de viver na Terra, e na decisão as circunstâncias atenuantes e agravantes serão consideradas nos mínimos detalhes, a ponto de qualquer delas, ainda que do peso de uma asa de colibri, influir no julgamento.
Quando a sentença transitar em julgado e dela não couber mais nenhum recurso, vamos ser levados para o local que merecermos, em perfeita consonância com aqueles valores já antes mencionados: a inteligência, os nossos conhecimentos e, sobretudo, as nossas qualidades morais. Somos ricos ou pobres deles? Cada um sabe exatamente a sua situação, bastando para isso uma profunda reflexão acerca do modo pelo qual vem rolando a sua vida. Mas, que tal voltamos rapidamente à Terra para essa reflexão? 
Era tudo um sonho!
Você acordou! Tudo não passou de imaginação, de um sonho. Mas de um sonho que se tornará realidade a qualquer instante. Com efeito, já compramos realmente o bilhete de volta no avião para o Além, de sorte que convém deixar a viagem preparada.
Eis aqui algumas sugestões para o grande retorno: uma leitura da segunda parte do livro "O Céu e o Inferno''", de Allan Kardec, onde estão 67 depoimentos de Espíritos nas mais diversas condições no mundo espiritual, sendo que uma delas será, sem nenhuma dúvida, a nossa, dependendo da semelhança com o modo de vida que o Espírito em comparação teve aqui na Terra; do Capítulo 3, do livro "Cartas e Crônicas", do Espírito Irmão X, pela psicografia do querido Chico Xavier, intitulada Treino para a morte, que nos dará muita informação sobre a vida de lá; do já mencionado Item 9, do Capítulo XVI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", para conhecermos a verdadeira propriedade, valendo para o mundo físico e para o mundo espiritual. E muita caridade, pois fora dela não há salvação.
Depois, é só apertar o cinto e boa viagem!
Eliseu Florentino da Mota Junior, revista Reformador, da FEB, de dezembro de 1994

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