sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ancestrais do homem

As pesquisas sobre a evolução humana ganham novo impulso e voltam-se para além de 4 milhões de anos atrás a partir de duas descobertas recentes, examinadas cuidadosamente apenas ao longo de 2001.

Até 1999, todos os fósseis desenterrados e estudados com precisão se situavam dentro dessa faixa de tempo. No final desse ano, porém, foram achados pedaços de cinco esqueletos no Quênia, na África, que não podem sequer ser classificados entre os australopitecos – que é o nome do gênero, ou conjunto de espécies, das quais teria surgido o gênero humano (ou Homo, como denominam os paleoantropólogos). Os novos fósseis teriam pertencido a uma espécie e a um gênero inteiramente novos – trata-se do Orrorin tugenesis (a primeira palavra indica o gênero e a segunda, a espécie). De acordo com os responsáveis pela descoberta, Brigitte Senut e Martin Pickford, da Expedição Paleontológica do Quênia, esse animal teria vivido há 6 milhões de anos. Doze meses mais tarde, no final de 2000, nova descoberta no mesmo país: o pesquisador Yohannes Hailé-Selassie, da Universidade da Califórnia, EUA, encontra o Ardipithecus ramidus kaddaba, cujos restos mortais teriam entre 5,8 e 5,2 milhões de anos. Os fósseis do gênero Ardipithecus conhecidos até o final dos anos 90 eram bem mais recentes do que essa data: tinham todos aproximadamente 4 milhões de anos.

Australopitecos – Esses achados fornecem a primeira visão do período ainda nebuloso que antecedeu a chegada dos australopitecos – que aconteceu, justamente, por volta de 4 milhões de anos – e devem ajudar a decifrar sua origem e sua posterior evolução. Atualmente, discute-se que tipo de australopiteco, dos vários que se conhecem, teriam levado ao aparecimento do Homo sapiens. A disputa se concentra sobre dois fósseis encontrados em 1999. Um deles, o Australopithecus africanus, foi desenterrado pelo arqueólogo Ronald Clarke na África do Sul. O outro foi achado na Etiópia e batizado de Australopithecus garhi por seus descobridores, os paleoantropólogos Tim White, norte-americano, e Bernhane Asfaw, etíope. 
Os australopitecos formavam um grande grupo de animais parecidos com os chimpanzés. Mas, ao contrário deles, já não andavam sobre quatro patas. Possuíam características humanas, embora apresentassem um cérebro bastante pequeno. Eles também tinham os dentes e o maxilar diferentes, bem maiores e mais pesados que os dos homens. Já se conhecem oito espécies de australopitecos, que viveram entre 4 milhões e 1,5 milhão de anos atrás: além do africanus e do garhi, foram identificados os seguintes Australopithecus: anamensis, afarensis, aethiopicus, boisei, robustus e bahrelghazalli. 
A teoria por enquanto mais aceita indica como provável ancestral humano o afarensis, surgido há cerca de 4 milhões de anos e extinto há uns 2,5 milhões de anos. Além dessa hipótese, existem outras. Os descobridores do garhi acreditam que o afarensis esteja na raiz da humanidade, porém não diretamente. Um pouco antes de se extinguir, ele teria dado origem ao garhi - este, sim, ancestral direto dos homens. O sul-africano Ronald Clarke considera que o afarensis não tem ligação com os seres humanos – ele seria apenas um ramo que não evoluiu. A humanidade teria nascido do africanus.

Homo sapiens – Também é incerto o que transcorreu depois dos australopitecos, pois a paleoantropologia não afirma que eles tenham dado origem diretamente ao Homo sapiens. Antes disso, teriam existido seis espécies primitivas de homem, de crânio um pouco menor que o nosso: o Homo rudolfensis, o Homo habilis, o Homo erectus, o Homo ergaster, o Homo heidelbergensis e o Homo neandertalensis. Até a década passada, era tido como quase certo que o habilis evoluíra dos australopitecos há uns 2,5 milhões de anos, produzindo em seguida o ramo do erectus. E este, um pouco antes de se extinguir, por volta de 500 mil anos atrás, gerou duas novas espécies, o sapiens e o homem de Neandertal. 
Atualmente, essa teoria já não tem grande aceitação. Primeiro, porque os fósseis mais antigos de sapiens que se conhecem têm somente 100 mil anos. Assim, ele não poderia descender do erectus, desaparecido centenas de milhares de anos antes. Talvez tenha havido uma espécie intermediária entre o erectus e o sapiens, mas nenhum dos fósseis desse período desenterrados até agora mostra as características que se esperam encontrar nesse hipotético elo que falta. Além disso, novos estudos feitos em ossos guardados em museus mostram que o rudolfense e o ergáster também podem ser ancestrais diretos da humanidade.

Homem de Neandertal – Resta saber qual o papel do homem de Neandertal na evolução do homem. A tendência, até meados dos anos 90, era considerá-lo um parente afastado da humanidade, podendo ser uma subespécie dos sapiens, com os quais teria, inclusive, relacionamento sexual. Cientistas ainda estudam a possibilidade de que uma criança fóssil, encontrada em 1999 em Portugal pelo arqueólogo João Zilhão, tenha sido filha de pai neandertal e de mãe sapiens. Em 1997, porém, surgiram novas pistas, baseadas em fragmentos de genes retirados de um fóssil de um neandertal morto há 30 mil anos. Esse trabalho inédito mostrou que o neadertal apareceu muito antes do que se considerava – sua origem recuaria até 500 mil anos atrás, e não apenas há pouco mais de 100 mil anos. Além disso, sua constituição genética era bem diversa da nossa. Conclui-se daí que essa espécie certamente conviveu com os primeiros sapiens, atingindo essencialmente o mesmo nível de desenvolvimento tecnológico e cultural, mas não seria seu ancestral nem uma subespécie próxima dele.

Migrações – Em 2000, uma equipe liderada pela italiana Augusta Santachiara-Benerecetti, da Universidade de Pavia, demonstra que os primeiros grupos humanos chegaram à Europa há 1,7 milhão de anos. Eles eram da espécie Homo erectus e estabeleceram-se na Geórgia, na fronteira com a Ásia. Eles parecem ter chegado à região pouco antes de se dirigir para a Austrália. A descoberta mostra que quando o Homo neandertalensis (o homem de Neandertal) aparece na história, cerca de 500 000 anos atrás, a África já não era o único continente povoado por espécies humanas, que se encontravam espalhadas por todo o planeta.
Fonte: Mundo Físico, publicação do Centro de Ciências Tecnológicas - CCT da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC

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