quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Gabriel Delanne – Um Pesquisador Incansável


Virada de século, virada de milênio, ótima oportunidade para refletir e analisar as diversas contribuições feitas no século XX ao Espiritismo e as chamadas ciências do espírito. Gabriel Delanne (juntamente a Leon Denis) marca a transição do Espiritismo do século XIX, influenciado pela presença de Kardec, para o Espiritismo do início do século XX, buscando sua afirmação científica, tentando empolgar os homens de ciência da época. Nascido em Paris, no dia 23 de março de 1857 – no mesmo ano da publicação de "O Livro dos Espíritos" – Delanne foi (juntamente com Leon Denis) o discípulo mais próximo de Alan Kardec. Além disso foi provavelmente a primeira grande personagem espírita nascida em uma família espírita. Apenas para recordar, Allan Kardec tomou conhecimento dos fenômenos espíritas aos 50 anos e Leon Denis era adolescente quando ouviu falar pela primeira vez do Espiritismo. Gabriel Delanne nasceu em família espírita, seu pai Alexandre Delanne acompanhou de perto os trabalhos de Allan Kardec tendo formado um pequeno grupo familiar de estudos espíritas tendo como médium escrevente sua esposa (e mãe de Gabriel) Alexandrine Delanne.
Portanto desde criança Gabriel Delanne estava familiarizado com o vocabulário espiritista e assistiu desde muito pequeno a numerosas sessões espíritas. Delanne, inclusive, travou contato com o mestre Kardec na sua infância – Kardec faleceu quando Delanne tinha 12 anos de idade.
Uma vida atribulada e sofrida
Gabriel Delanne iniciou seus estudos no colégio Cluny (em Saone-et-Loire), depois no colégio de Grau (em Haute-Soane) e aos 19 anos ingressou na Escola Central das Artes e Manufatura. Como a situação financeira de seus pais não permitiu a conclusão de seus estudos, começou a trabalhar na Companhia de Ar Comprimido e de Eletricidade Popp onde esteve até 1892, dividindo seu tempo entre seu trabalho e sua dedicação ao Espiritismo.
Delanne não gozava de boa saúde. De menino tinha um abcesso no olho esquerdo – pelo qual foi isento do serviço militar – o qual resultou numa infeção que iria progressivamente prejudicar sua visão. No curso dos anos seu estado de saúde foi se agravando. Em 1906 a paralisia dos membros inferiores obrigava-o a andar com duas bengalas. Nem por isso abandonou as conferências na França e no exterior, sempre divulgando as idéias espíritas. No período da Primeira Guerra (1914/18) a saúde de Delanne piorou ainda mais. Cada movimento era um grande sofrimento e ainda por cima ficou cego. Em 1918 já não conseguia mais andar sendo necessário o uso de cadeira de rodas. Não obstante todos esse sofrimento físico continuou produzindo incessantemente, retirado na vila de Montmorency onde Jean Myer lhe havia dado asilo.
Sua morte se deu em 15 de fevereiro de 1926, aos 69 anos de idade. Sua sepultura se encontra no famoso cemitério parisiense de Pere Lachaise.
Contribuições ao Espiritismo
Como já dito Gabriel Delanne marcou a transição e a continuação da obra de Kardec. Defensor ferrenho do caráter cientifico da Doutrina Espírita dedicou a maior parte de seus esforços na luta por consolidar o Espiritismo como uma ciência estabelecida e complementar às outras. Foi presidente da União Espírita Francesa, presidente da Sociedade de Estudos dos Fenômenos Psíquicos, fundador e diretor da Revista Cientifica e Moral de Espiritismo. Escritor de grande talento dentre suas principais obras destacam-se: O Espiritismo Perante a Ciência, O Fenômeno Espírita, A Evolução Anímica, A Reencarnação, A Alma é Imortal, Katie King, As Materializações da Vila Carmen.
Marcam suas obras a defesa ferrenha dos conceitos espíritas e o combate ao materialismo. Utilizando o método racional empregado na época, faz uso de casos e observações para comprovar suas hipóteses. Apesar de aceitar a revelação dos espíritos, sempre procurou a comprovação através dos fatos.
No meu entender sua maior contribuição ao Espiritismo foi a tese do Perispírito. Se o conceito do Perispírito havia sido introduzido por Allan Kardec, foi Delanne quem o definiu, estudou e atribuiu diversas funções na economia corporal e espiritual. Vitalista, atribui ao perispírito a resposta às questões pendentes de sua época:
Como explicar a vida? Por que se morre? Como a estabilidade orgânica é mantida frente a renovação celular constante? Como explicar a ação inteligente da alma sobre o corpo? Onde se localiza a memória? Como se dá a evolução anímica?
Para todas esses questões Delanne ofereceu como resposta a existência do Perispírito, suas características e funções. Além disso desenvolveu brilhante explicação acerca dos fenômenos espíritas, novamente utilizando o Perispírito como peça central, sempre ressaltando que o Espiritismo não tinha nada de sobrenatural e se calcava em bases naturais, ou seja, na existência desse corpo físico, porém etéreo, ponte entre a alma e o corpo físico. Introduziu também com muita força a noção do fluido vital. Finalmente atribuiu ao Perispírito a sede da memória, estabelecendo assim uma ligação entre a reencarnação e a evolução anímica.
De certa forma todo o desenvolvimento científico tentado por diversos autores espíritas, como André Luiz e Hernani G. Andrade, baseiam-se nos postulados de Delanne. É mister admitir que o progresso da ciência demonstrou que várias hipóteses de Delanne estão incorretas, porem é notável o esforço feito por ele para colocar o Espiritismo par a par com a ciência, não só pelo método empregado, mas pela busca constante de fatos que comprovem suas proposições.
A leitura de suas obras mostra um Delanne apaixonado, convencido da força das idéias espíritas e mais que tudo consciente do impacto moral das mesmas, como nos atesta o seguinte trecho da conclusão de sua obra "A Evolução Anímica" (Delanne,Gabriel – 6a Edição; Ed. FEB – pág. 252) :
"Com a certeza das vidas sucessivas e da responsabilidade dos nossos atos, muitos problemas revelar-se-ão sob novos prismas. As lutas sociais, que atingem , nesta nossa época, um caráter de aguda aspereza, poderão ser suavizadas pela convicção de não ser a existência planetária mais que um momento transitório no curso de uma eterna evolução.
Com menos orgulho nas camadas altas e menos inveja nas baixas, surgirá uma solidariedade efetiva, em contacto com estas doutrinas consoladoras, e talvez possamos ver desaparecer da face da Terra as lutas fratricidas, ineptos frutos da ignorância , a se dissiparem diante dos ensinamentos de amor e fraternidade, que são a coroa radiosa do Espiritismo."
Por toda sua dedicação a idéia espírita, na defesa do aspecto científico do Espiritismo e por seu humanismo Gabriel Delanne merece lugar de destaque entre os pensadores que contribuíram para a evolução da idéia espírita no século XX.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Palestra: ABORTO - ASPECTOS JURÍDICOS E ESPIRITUAIS, no ICEMS, dia 29/11, sábado, às 19:30 hs

A palestra "ABORTO - ASPECTOS JURÍDICOS E ESPIRITUAIS" será proferida pelo Sr. Alcir Kenupp Cunha, Juiz do Trabalho.
Data: 29/11/2008 - sábado - 19:30hs
Local: Instituto de Cultura Espírita de Mato Grosso do Sul
Rua 26 de agosto, 850 - centro
Campo Grande-MS

À sua maneira, jovens cultivam fé

Publicado dia 16/11/2008 na Revista do Instituto Humanitas Unisinos, disponível no endereço: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=18283

Há seis anos, Valentim, de 20 anos, criado em família católica, é budista. São da mesma época os primeiros passos de Fany, de 27, no xamanismo e nos rituais do Santo Daime. Seu namorado, Gabriel, de 20, também segue as duas religiões, além de ser adepto do rastafarianismo - a mesma religião de Bob Marley (1945-1981). Wellington, de 21 anos, passou a freqüentar a igreja evangélica Bola de Neve há dois anos, após ser convencido por um vizinho. Eles podem divergir quanto a crença, mas estão unidos por viverem a fé em seu cotidiano.
A reportagem é de Emilio Sant’Anna e Simone Iwasso e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 16-11-2008.
A trajetória dos quatro jovens contraria o senso comum que atribui a essa fase da vida uma postura individualista e pouco interessada em qualquer forma de religiosidade. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e do Instituto Polis, realizada em sete regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), já identificava isso em 2005.
O comportamento de mais de 8 mil jovens diante de assuntos como religião e política foi analisado para se traçar um perfil dessa população. Nesse universo, a participação em grupos é vivida por 28,1%, a maior parte pertencentes às classes A e B. A religião é o principal motivo que os une (42,5%), seguida por atividades esportivas (32,5%) e artísticas (26,9%).
A forma como os jovens vivem a religiosidade, no entanto, chama a atenção. “Essa é uma geração que experimenta mais, entra e sai das religiões com facilidade”, diz a antropóloga e pesquisadora do Ibase, Regina Novaes. “Muitas vezes, a procura leva a uma mistura de crenças pois eles se sentem mais livres para procurar um lugar em que se sintam bem.”
A vivência familiar é uma das explicações para a flexibilidade da fé. “Essa geração vem de famílias plurirreligiosas, o que é uma novidade”, explica Regina.
Valentim Conde Fernandes, 20 anos, tinha tudo para ser católico. A avó o levou para a igreja, a mãe freqüentava grupos de oração. Porém, aos 14 anos, o jovem começou a se interessar pelo budismo.
O interesse cresceu a ponto de se tornar voluntário no Templo Zu Lai, em Cotia, na grande São Paulo. Nesse fim de semana, Valentim viajou para o Rio. O destino: um retiro espiritual.
Seis anos após se converter, a família de Valentim também mudou. Aceita a religião do filho e seu objetivo: ingressar na Universidade Livre Budista e depois continuar seus estudos em Taiwan para se tornar monge. “O budismo foi fundamental para eu me entender melhor e para que eu não fosse mais uma pessoa mentindo para si mesma”, diz ele.
CRENTES
Uma pesquisa feita neste ano por um grupo conduzido pelo teólogo Jorge Cláudio Ribeiro, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com cerca de 1.500 universitários paulistas de 17 a 25 anos reflete a tendência dos jovens buscarem sua própria fé. O estudo mostrou que 20% dos entrevistados se declaram crentes sem religião. Ou seja, estavam ligados a práticas religiosas, sem serem filiados a nenhuma delas. “É comum ouvir dizer que a juventude perdeu as crenças, mergulhou no niilismo, no consumismo e no individualismo e abandonou as práticas religiosas. No entanto, a pesquisa descobriu que, pelo contrário, o jovem cultiva intensa religiosidade, que se integra em sua vida”, afirma o teólogo.
Os dados encontrados pelo professor vão ao encontro dos últimos dados disponíveis do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelo último censo, há três grandes mudanças em curso na religiosidade do brasileiro, e das quais os jovens até 24 anos fazem parte: queda no número de católicos, crescimento de evangélicos e aumento de pessoas que não se identificam com nenhuma religião tradicional.
Pouco tradicional é uma definição para as crenças do casal de namorados Fany Carolina de Castro Matriccioni, de 27 anos, e o namorado Gabriel Santana, de 21. Fany além de seguir o xamanismo - religião que une os conhecimentos ancestrais de povos indígenas e representações de seres míticos e animais - também freqüenta sessões do Santo Daime, seita que ficou conhecida pelo uso da ayahuasca, planta nativa da região amazônica.
Gabriel compartilha das duas crenças, mas também é seguidor do rastafári, crença fortemente influenciada pelo judaísmo e cristianismo. Entre seus preceitos estão o vegetarianismo e a proibição de cortar o cabelo, trançado em forma de dreadlocks. Para os rastas o uso da maconha é sagrado. “A maconha é usada como consagração. O que é banal para uns é sagrado para outros”, explica Gabriel.
CLASSE SOCIAL
Apesar da liberdade para definir sua fé, a classe social ainda é um fator importante na escolha e na forma como os jovens encaram as religiões. Enquanto os de classe mais baixa estão mais propensos a seguir as igrejas pentecostais, os jovens das classes média e alta parecem mais livres e interessados em crenças pouco ortodoxas para os padrões do brasileiro. “São os crentes sem religião, ou os agnósticos, como muitos se definem. Levam mais em conta a fé e a espiritualidade do que as instituições religiosas. Entre jovens com maior acesso à educação e a bens culturais, esse perfil aparece com maior freqüência”, diz Ribeiro.
Para o cientista político Cesar Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio), há um núcleo de jovens urbanos e de classes média e alta que se encaixa nesse deslocamento das religiões tradicionais. No entanto, ele alerta que, seguindo a tendência da população em geral, o jovem das periferias das grandes cidades tende a trocar o catolicismo pelas igrejas evangélicas. “São as evangélicas neopentecostais que estão atraindo esses jovens da periferia, que se mostram presentes onde há falhas na oferta de serviços por parte do Estado, e onde a Igreja Católica não chega”, analisa.
No mapa da religião em São Paulo, traçado pelo pesquisador da PUC-Rio a partir dos dados do IBGE, a divisão fica clara: o centro expandido e a zona oeste são majoritariamente católicos (cerca de 83% da população), há bairros isolados, como a Liberdade, onde prevalece o budismo, e a zona leste é em sua grande maioria evangélica. “A moral rígida das evangélicas neopentecostais e pentecostais, como Assembléia de Deus, acaba sendo um porto seguro para as pessoas que se sentem inseguras em meio à falta de infra-estrutura e acesso a bens das periferias”, afirma Jacob.
O motoboy Wellington Silva de Oliveira Sanchez, de 21 anos, passou a freqüentar a igreja evangélica Bola de Neve, conhecida por reunir entre seus fiéis um número grande de jovens e surfistas, depois que um vizinho fez comentários sobre os cultos. “Ele falava que encontrava forças lá, que saía diferente depois do culto”, conta. “Fiquei curioso, pensei que, se fosse tão bom assim, eu também queria isso”, diz. Desde a primeira visita, já se passaram dois anos - a igreja existe há cerca de dez. “Vou toda semana, depois que largo o trabalho. Conheci minha namorada lá também.”